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José Luís Peixoto

SOLAR BRAGANÇANO, BRAGANÇA

Brio

Logo à chegada, quando ainda estava a reparar na decoração, ouvi o meu nome ser chamado e, ao virar-me, encontrei um amigo de há mais de trinta anos. Agora, parece-me que essa coincidência foi o primeiro sinal do que me esperava neste restaurante.


Do armário a abarrotar de livros na primeira sala aos arranjos de rosas frescas sobre a mesa, às toalhas de pano, aos guardanapos de pano, aos candelabros, aos talheres, aos espelhos a refletirem a luz e, mesmo, à própria luz de Bragança. Tudo no Solar Bragançano fala de um certo tempo, de um certo conforto familiar, de um certo Portugal.


Subimos os degraus alcatifados até ao primeiro andar, corrimão de madeira, como se essa fosse a preparação para entrar nas páginas de um romance do século XIX. Ao sentarmo-nos já estamos completamente envolvidos, exatamente como se estivéssemos no interior de um capítulo. A ementa leva-nos por enredos da fidalguia transmontana, com os seus requintes sóbrios, próximos da tradição, respeitadores das iguarias da terra: cinco sopas à escolha; carnes deste lado do norte, posta, naco, vitela, cabrito, cordeiro de leite, alheira; e pratos de caça, lebre, faisão, javali, perdiz, galinhola; por fim, sobremesas sem exagero, mas com garantia, como é o caso da sopa de cerejas.



Depois do almoço, conversei sobre livros com o dono do restaurante. Em certa medida, essa foi uma conversa metaliterária, pois estávamos no interior de um livro. Este Solar Bragançano é um romance transmontano, da autoria de António Desidério e da sua esposa Ana Desidério. Para lê-lo é preciso ir a Bragança e sentar-se à mesa.


Escrevo estas palavras não tanto para outros olhares, mas principalmente para mim próprio: não quero esquecer-me. Hoje, iniciei esta leitura, estou certo de que tenho muitas páginas à minha frente.







Texto e fotografias de José Luís Peixoto



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