Outono no leste da Roménia
O Palácio da Cultura domina a zona histórica de Iasi. Os primeiros passos da sua construção tiveram lugar no início do século XX e, por isso, este carismático edifício tem sido um marco da história da cidade desde então. Durante a I Guerra Mundial, ainda inacabado, abrigou tropas russas e romenas, tendo algumas das suas alas servido de hospital militar. Acabou por ser inaugurado apenas em 1925 pelo rei da Roménia. A partir daí, muitas instituições tiveram aqui a sua sede, foi tribunal, biblioteca, museu de arte, de história, de etnografia e de ciência.
Caminhando pela rua pedonal a pouca distância deste enorme palácio, encontrei pessoas nas suas horas de recreio, famílias inteiras a passearem numa das zonas mais descontraídas da cidade. Foi também aí que encontrei um painel que propõe quatro diferentes roteiros de passeio, organizados por temas que, a meu ver, sintetizam bem o passado e algumas especificidades de Iasi: a rota peregrina, a romântica, a judaica e a comunista.
A rota peregrina passa por várias igrejas e basílicas, principalmente ortodoxas, como é o caso da catedral metropolitana. A romântica leva-nos por cafés de outros tempos, jardins, museus e pelo Teatro Nacional Vasile Alecsandri, que é o mais antigo de todo o país, com origem no início do século XIX, um monumental exemplo de arquitetura neoclássica na fachada, com interior ao estilo barroco, apresentando algumas especificidades desta região do mundo. A rota judaica dá conta da presença desta comunidade e dos atos genocidas que aqui foram perpetrados durante a II Guerra Mundal. A rota comunista, como é evidente, chama a atenção para o regime que vigorou na Roménia durante mais de 40 anos. Essa é uma marca que, ainda hoje, se distingue facilmente em muita da arquitetura da cidade.
Ao lado do Palácio da Cultura, há um monumento com nomes de alguns dos que morreram durante a revolução que pôs fim à ditadura na Roménia. As letras de muitos desses nomes começam a apagar-se. É inevitável comparar essa erosão com a que também vai existindo na memória coletiva.
A Igreja Ortodoxa Romena é, de longe, a que tem mais fiéis em todo o país, cerca de 90% de toda a população. Essa devoção sente-se muito claramente na atividade que se encontra no interior dos templos. Sem figuras esculpidas, as igrejas ortodoxas apresentam ícones, que são pinturas religiosas executadas sobre madeira, normalmente com muito recurso ao dourado. O brilho desses ícones adicionado à luz das velas e à penumbra dão uma ambiência própria a estes lugares de culto. Com gravidade, os fiéis aproximam-se dos ícones, encostam a testa e, muitas vezes, beijam a imagem.
É assim na Catedral Metropolitana de Iasi, a maior de toda a Roménia, construída durante grande parte do século XIX. Tanto cá fora, como no seu interior, clérigos ortodoxos dirigem-se para algum lugar, os homens com uma grande barba, as mulheres com um véu sobre a cabeça, uns e outros vestidos completamente de negro. Um pouco mais à frente, na mesma rua, também rodeada por um magnífico jardim outonal, fica o Mosteiro dos Três Hierarcas. Muito mais pequeno do que a catedral, mas mais antigo, século XVII, este é um templo menos exuberante, mas também bastante belo, provavelmente adequado para uma vivência da fé mais discreta.
A leste, lá em cima, junto à fronteira com a Moldávia, fui recebido por um outono de céu aberto, luz extraordinariamente límpida, mas temperaturas baixas: um frio nítido e belo.
Texto e fotografias de José Luís Peixoto
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