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  • José Luís Peixoto

BUSAN, COREIA DO SUL

Atualizado: 9 de mai.






As vendedoras de peixe do mercado Jagalchi, em Busan, veem-me passar e não insistem nas suas ofertas, como fazem a outros. Sabem que não as consigo entender e presumem que não vou comprar peixe. São mulheres de cinquenta ou sessenta anos, com lenços e chapéus na cabeça, com luvas de borracha, aventais plastificados e, quase sempre, com batom nos lábios, maquilhadas. O mercado está impecavelmente limpo e organizado, toda a Coreia do Sul é assim. Os peixes estão já divididos em pratos, de acordo com o peso, ou vivos em tanques, mariscos enormes, bandejas de conchas, bandejas de búzios. Cá fora, protegido por guarda-sóis e conversas em coreano, há peixe fresco e seco, prensado ou não. Lá ao fundo, na encosta, as casas dos pescadores são como peças de um brinquedo colorido. Há muitas gerações que esses homens se fazem ao mar e abastecem este mercado.




Ontem, ao fim da tarde, passei por algum deste peixe em grandes frigideiras da rua Gwangbokdong, a ser frito em fogões sobre botijas de gás. Rapazes e raparigas avançavam em marés, sincronizados como grupos de K-pop, a comerem lulas espetadas num palito. À noite, ao largo da praia Haeundae, havia também peixe deste, mariscos, enorme variedade de animais do mar, estava nos tanques e nas mesas das barraquinhas onde se sentavam famílias, a comer kimchi, a brindar com soju. Mas eu continuei pelo caminho ao longo da praia. Em setembro, há uma poesia suave nos serões desta praia coreana: plateias improvisadas sentam-se em degraus diante de músicos amadores; grupos de amigos caminham pela areia, de calças arregaçadas e, às vezes, no auge da alegria, disparam foguetes na distância. De um lado, o mar, a noite e as estrelas; do outro lado, a cidade, imensa, a tentar imitar a beleza desse brilho.






Texto de José Luís Peixoto

© José Luís Peixoto

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