Como um souvenir
De certeza que há pessoas que já previam tudo isto: a pandemia, a quarentena, o distanciamento social, etc. Eu não fui uma dessas pessoas.
Na última viagem que consegui fazer, em fevereiro, já se encontrava gente de máscara nos aeroportos, mas ainda havia um certo espanto. Com alguma vergonha, admito que ficava muitas vezes com a sensação de que era um exagero. À chegada ao destino, em Banguecoque, devido ao uso mais habitual de máscaras que existe em alguns países asiáticos, como é o caso da Tailândia, não achei tão invulgar.
Desde então, o impedimento de viajar aumentou bastante a nostalgia com que recordo as peripécias desse tempo. Mudei muito nestes sete meses, começando pela minha visão de todo este tema, também pela minha compreensão um pouco mais aproximada e pela aceitação de que o mundo pode realmente mudar de formas abruptas e inesperadas, e que a saúde é realmente a prioridade.
Ainda assim, a nostalgia é enorme. Não me chega trocar mensagens nas redes sociais com os amigos que mantenho na Tailândia, não me chega ver vídeos no youtube ou séries tailandesas no netflix. Preciso de ir lá. Uma tigela de Tom Kha Gai (sopa de coco e frango) tem um sabor muito diferente na soi (travessa) 20 da Silom Road do que em qualquer outro lugar do mundo.
Mas sei esperar. Um sentimento bastante maior do que a nostalgia é a gratidão. Ainda bem que, enquanto foi possível, pude ir à Tailândia, aproveitei esse privilégio.
E hei de voltar. Também a esperança é maior do que a nostalgia. Hei de voltar a cruzar o rio Chao Phraya em Banguecoque, o rio Ping em Chiang Mai e tantos outros que ainda não conheço. Hei de voltar a sentar-me nos banquinhos de plástico dos restaurantes de rua das várias travessas da Silom, da Sukhumvit, da Chinatown e de inúmeros mercados noturnos. Hei de voltar. Será tão bom como sempre foi.
Sei esperar.
Texto e fotos de José Luís Peixoto
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