A casa viva
Impressiona-me sempre circular por edifícios com história. A minha cabeça fervilha ao imaginar tudo o que já aconteceu naquelas salas, fixo-me na ideia dessas pessoas que as ocuparam, convictas na grandiosidade do presente em que estavam. Também nós somos assim, olhamos para o nosso presente como se fosse tudo o que existe e, no entanto, há um passado imenso que nos precede e, também, um futuro imenso que nos sucederá.
Na cidade do Mindelo, em São Vicente, o edifício ocupado pelo Centro Nacional de Arte, Artesanato e Design (CNAD) tem uma longa história. Acredita-se que a sua construção foi concluída por volta de 1890, tendo permanecido como residência privada até perto do início da segunda década do século XX, momento em que passou a albergar o primeiro liceu do país. Desde então, foi quartel, grémio, estação de rádio e museu até se transformar no atual CNAD.
Imaginemos a vida doméstica nos seus primeiros anos, as aulas dos jovens do liceu, as reuniões dos distintos associados do grémio, imaginemos os dias da rádio. Foi nesse tempo e numa destas salas, assinalada no espaço do CNAD, que Cesária Évora gravou o seu primeiro disco, em 1965. Imaginemos Cesária com 24 anos.
Depois, foi Museu de Arte Tradicional e, quando o conheci em 1998, era o Centro Nacional de Artesanato já há algumas décadas, criado pelo coletivo de artistas plásticos constituído por Luísa Queiróz, Bela Duarte e Manuel Figueira.
No ano passado, agosto de 2022, este espaço renasceu ao transformar-se no atual CNAD. O antigo edifício, com porta para a mítica Praça Nova, serve de entrada para novos espaços, mais amplos, que acolhem exposições das mais diversas áreas da arte, do artesanato e do design, e que, ao mesmo tempo, acolhe o dinamismo de uma agenda de atividades, residências de artistas, uma loja com espantosos produtos feitos por mãos cabo-verdianas e, em breve, um café que, espera-se, dê seguimento às tertúlias culturais do Mindelo.
Quem se alegra com os sucessos desta cidade e, mesmo, de todo o Cabo Verde, não pode deixar de congratular-se com este Centro Nacional de Artes, Artesanato e Design, este CNAD, uma visita imprescindível na ilha, com um imenso potencial no que diz respeito à criação de valor para este país que tanta arte tem dado ao mundo.
Estão de parabéns todas as pessoas que têm contribuído para este CNAD, é Cabo Verde inteiro que está de parabéns.
Texto e fotos de José Luís Peixoto
Pequena intervenção no programa Esta Manhã (TVI), na qual também mencionei o CNAD:
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